As vacinas são substâncias, geralmente sob a forma de solução. São uma preparação antigénica, que contém agentes patogénicos (vírus ou bactérias) completos, mortos, atenuados ou partes do mesmo, que quando administrada num indivíduo estimula o sistema imunitário a desenvolver uma resposta imunitária protetora específica de um ou mais agentes infeciosos sem que estes se desenvolvam.
O antigénio da
vacina é normalmente composto por microrganismos (vírus ou bactérias)
completos, mortos ou atenuados, ou de um fragmento desses microrganismos, por
exemplo, uma parte da parede celular de uma bactéria, como foi dito acima.
O antigénio deve induzir uma reação imunitária e ao mesmo não deve provocar a doença. A vacina é uma medida de proteção que produz no indivíduo uma resposta imunitária como se o indivíduo tivesse realmente sido infetado pelo agente patogénico. O antigénio da vacina é apresentado em pequenas quantidades na dose da vacina, numa forma purificada, diluído num líquido estéril e por vezes combinado com adjuvantes, que amplificam a reação imunitária.
As vacinas
são encaradas como medicamentos, mas manifestam várias diferenças
assinaláveis relativamente aos medicamentos clássicos.
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História
da Vacinação
A vacinação começou à cerca de mais de mil anos… Já era sabido que quando uma epidemia espalhava o caos, os sobreviventes não contraíam logo a doença. Quando a varíola apareceu na rota da seda, da China para a Turquia, surgiu a ideia de inocular o pus retirado de um doente, numa pessoa saudável. Era arriscado, mas ao desenvolver sintomas benignos, a pessoa estava mais bem protegida da infeção fatal.
O que se
apelidou de variolização foi importado para o Ocidente no início do século
XVIII.
Mas foi só
em 1796, que um médico inglês, Edward Jenner, estabeleceu as primeiras bases
científicas.
Jenner
usou o vírus da varíola bovina, retirado das pústulas de vacas doentes, que
inoculava em camponeses ingleses de forma a protegê-los da doença. Utilizou o
termo ‘variola vaccinae’, que significa literalmente, varíola das vacas e que
mais tarde daria origem à palavra vacina.
Esta era a
única vacina até chegar Louis Pasteur, 90 anos depois, já no final do século
XIX.
A primeira
vacina contra a raiva foi testada por Pasteur em 1885, num rapaz mordido por
um cão. O qual foi o primeiro a sobreviver à doença!
No início
do séc. XX, foram desenvolvidas vacinas contra doenças infecciosas como
a tuberculose, a difteria, o tétano e a febre amarela. Após a 2ª Guerra Mundial, desenvolveram-se vacinas
contra a poliomielite, o sarampo, a papeira e
a rubéola.
Atualmente existem mais de 50 vacinas em todo o mundo.
Existem vários tipos de vacinas: |
- As de microrganismos completos;
- Vacinas de partes de microrganismos;
- Vacinas recombinantes.
Vacinas de microrganismos completos
As vacinas de microrganismos completos podem-se dividir em dois tipos de vacinas: vivas atenuadas e as mortas ou inativadas.
Vacinas vivas atenuadas
O microrganismo (micróbio, normalmente
bactéria ou vírus), obtido a partir de um indivíduo ou animal infetado, é atenuado
por passagens sucessivas em meios de cultura, culturas celulares. Esta
atenuação diminui o seu poder infeccioso.
O microrganismo mantém a capacidade de
se multiplicar no organismo do indivíduo vacinado (não causando doença) e induz
uma resposta imunitária apropriada. Geralmente, basta a administração de uma
única dose para produzir imunidade para toda a vida (com exceção para as vacinas
administradas oralmente).
As vacinas vivas atenuadas têm como desvantagem o risco de poder induzir sintomas (ainda que normalmente mais ligeiros) da doença que se pretende evitar e o risco de infeção do feto, no caso de vacinação de grávidas.
As vacinas vivas atenuadas têm como desvantagem o risco de poder induzir sintomas (ainda que normalmente mais ligeiros) da doença que se pretende evitar e o risco de infeção do feto, no caso de vacinação de grávidas.
Exemplo de vacinas vivas
atenuadas:
·
BCG
(vacina contra a tuberculose);
·
Vacina
contra o rotavírus;
·
Vacina
contra a varicela;
·
VASPR
(vacina contra o sarampo, papeira e rubéola);
·
Vacina
contra a febre amarela.
Vacinas mortas ou inativadas
Nas vacinas inativadas os
microrganismos são mortos através do calor ou através de um tratamento químico,
ou seja, por agentes químicos. A grande vantagem das vacinas inativadas é a
total ausência de poder infecioso do agente (incapacidade de se multiplicar no
organismo do vacinado), mantendo as suas características imunológicas. Ou seja,
estas vacinas não provocam a doença, mas têm a capacidade de induzir proteção
contra essa mesma doença.
Estas vacinas têm como desvantagem induzir
uma resposta imunitária quase ótima, o
que por vezes requer a necessidade de associar adjuvantes ou proteínas
transportadoras e a necessidade de administrar várias doses de reforço.
Tipos de vacinas inativadas
1. Inteiras (de vírus ou bactéria
intactos)
São exemplo a vacina contra: a
hepatite A, a encefalite japonesa, a cólera e a raiva.
2. Fracionadas (contêm pequenas
frações ou porções de vírus ou bactérias)
1.1. Sub-unitárias
São exemplos a vacina antigripal e
contra a cólera
1.2. Toxóide
São exemplos a vacina contra: o tétano
e a difteria
1.3. Polissacarídicas
São exemplos a vacina antipneumocócica
de 23 serotipos
1.4. Conjugadas
São exemplos a vacina meningocócica do
serogrupo C, vacina antipneumocócica (7, 10 e 13 valências), vacina contra o Haemophilus influenzae tipo b
3. Novas vacinas
Existe ainda um grupo de novas vacinas
que têm sido recentemente desenvolvidas por recombinação genética. Nestas
vacinas, produzidas através de modernas técnicas de biologia molecular e
engenharia genética, o antigénio é expresso (produzido) por outros
microrganismos (por exemplo, leveduras).
Exemplos destas vacinas incluem a
vacina contra a hepatite B e a vacina contra o papilomavírus humano (HPV).
Os outros dois tipos de vacinas: de
partes de microrganismo e as recombinantes não são dois tipos muito frequentes
sendo as mais importantes as vacinas atenuadas e as inativas.
Vacinas de partes de microrganismo
Este tipo de vacina une partes dos
microrganismos a proteínas que ajudam a aumentar a nossa resposta imunitária,
pois neste caso a vacina contem antigénios que estimulam o sistema imunitário
(mas não possui o agente patogénico)
Vacinas recombinantes
Este é um tipo de vacina ótimo pois
permite que se consiga proteger de várias doenças ao mesmo tempo, o que nos permite
diminuir o número de vacinas produzidas, administradas e aumenta a nossa
imunidade. São feitas a partir de microrganismos geneticamente modificados,
portanto a vacina continua a conter os antigénios que estimulam o sistema
imunitário mas não possui o agente patogénico.
A produção de vacinas
A produção de vacinas exige um enorme
conhecimento técnico e um controlo de qualidade sem paralelo.
As vacinas têm um processo de produção
complexo combinando métodos de fabrico biológicos e farmacêuticos, sendo por
isso produtos biofarmacêuticos. Os lotes produzidos são de grande dimensão e
contêm geralmente mais de 100.000 doses.
Diversos procedimentos de controlo
garantem que cada lote apresente um padrão de qualidade elevado e homogéneo.
Produção de vacinas em Bio-Manguinhos. |
Há duas fases principais na produção
das vacinas:
- A fase biológica, que envolve a preparação dos antigénios. Nesta fase identificam-se e fazem-se culturas dos microrganismos (bactérias ou vírus), que são posteriormente purificados e atenuados ou inativados (mortos);
- A fase farmacêutica, que consiste na obtenção final do produto pronto a usar.Nesta fase adicionam-se outros componentes para obter uma formulação final com características ideais para o enchimento e embalagem, com vista à posterior administração.
Produção biológica e
farmacêutica de uma vacina
A cadeia de frio na produção e
distribuição
Respeitar a cadeia de frio significa
trabalhar, com algumas exceções, com grandes limitações logísticas.
As vacinas devem ser mantidas a uma
temperatura entre os +2ºC e os +8ºC e são distribuídas em embalagens próprias
para suportar condições extremas, desde temperaturas muito elevadas a
temperaturas negativas.
Como
atuam as vacinas no nosso organismo?
Uma infeção
por um determinado microrganismo provoca reações de dois tipos. Primeiro uma
reação imediata, também designada como imunidade inata, em que a partir do tecido afetado são segregadas substâncias químicas que vão ajudar a desencadear uma
reação de defesa, ativando as células dos tecidos e chamando ao local as células do
sangue que têm por função destruir ou enfraquecer o organismo invasor.
Esta reação
inata, é necessária, mas não é específica para cada tipo de doença, nem
sempre é suficientemente eficaz, nem induz memória imunológica. O segundo tipo
de reação (chamado imunidade adquirida ou adaptativa) surge mais tarde,
mas é dirigido especificamente contra aquele agente patogénico, através da produção de
proteínas específicas, chamadas anticorpos, que vão reagir com as proteínas
(antigénios) do agente infecioso, parando a sua multiplicação e promovendo a
sua destruição. Para além disso vão ser ativadas as chamadas células de
memória, que vão permitir que o organismo reconheça e produza mais rapidamente anticorpos
específicos, sempre que entrar novamente em contato com aquele agente.
Assim as vacinas
são uma maneira de ter disponíveis os anticorpos específicos, sempre que um
micróbio tente invadir o nosso organismo. A maneira de o conseguir é pôr o nosso
organismo em contato com os agentes infeciosos, de modo a que os reconheçam e
induzam a tal memória imunológica, sem causarem doença. Sempre que um indivíduo
entra em contato com o microrganismo contra o qual foi vacinado, o seu
organismo reconhece o referido agente,” lembra-se” dele e ativa imediatamente a
produção de anticorpos protetores, de modo a neutralizarem o microrganismo
antes que o mesmo tenha tempo de causar doença.
Imagem explicativa de como atuam as vacinas |
Há várias maneiras de conseguir estes objetivos:
- Utilizando microrganismos mortos ou algumas partes dos microrganismos que são suficientes para serem reconhecidas pelo sistema imune (vacinas mortas ou inativadas);
- Utilizando microrganismos vivos mas enfraquecidos e incapazes de causar doença (vacinas atenuadas);
- Usando substâncias causadoras da doença (toxinas) segregadas pelo microrganismo, depois de inativadas (toxoides) como já foi dito acima.
Algumas
destas vacinas necessitam de substâncias denominadas adjuvantes, que têm por
efeito ajudar a aumentar a resposta do sistema imunitário.
A maior
parte das vacinas ajuda a proteger não só o indivíduo vacinado mas também a
própria comunidade, desencadeando a chamada “imunidade de grupo”, ao diminuir o
número de pessoas suscetíveis à doença, interrompendo assim a circulação do
microrganismo nessa comunidade, levando à irradiação da doença na comunidade.
As vacinas já possibilitaram a erradicação de uma doença terrível, a varíola, e estão quase a conseguir a eliminação de outra doença, a poliomielite. Nenhuma outra ação do Homem, à exceção do fornecimento de água potável às populações, contribuiu tão determinantemente para o progresso ao nível da saúde pública como as vacinas!
As vacinas já possibilitaram a erradicação de uma doença terrível, a varíola, e estão quase a conseguir a eliminação de outra doença, a poliomielite. Nenhuma outra ação do Homem, à exceção do fornecimento de água potável às populações, contribuiu tão determinantemente para o progresso ao nível da saúde pública como as vacinas!
O
desaparecimento da imunidade pode resultar do desaparecimento das células de
memória ou ser devido a mutações que ocorrem no agente patogénico. Por exemplo
o vírus da gripe tem uma elevada taxa de mutação, razão pela qual todos os anos
é necessário produzir uma vacina diferente, que contenha novas estripes que se
desenvolveram ao longo desse ano.
Aqui está um
vídeo para vos ajudar a compreender melhor o que lhes acabei de explicar, ou
seja, como atuam as vacinas.
Vacinas
comestíveis
Já comeste a tua vacina hoje?
No início da década de 1990, Charles Arntzen, do Texas
A&M University, imaginou uma forma de resolver estes problemas de
uma maneira muito barata e eficaz: ele viu, durante uma visita a Bangkok, uma mãe tentando introduzir
um pedaço de banana em seu filho já falecido.
Tarde demais, mas somente para aquela criança, pensou ele: a solução, talvez, fosse a de preparar alimentos geneticamente modificados, capazes de produzir vacinas. Como por exemplo: bananas, batatas ou tomates que, ao serem consumidos, vão transmitir ao organismo as inoculações necessárias.
Tarde demais, mas somente para aquela criança, pensou ele: a solução, talvez, fosse a de preparar alimentos geneticamente modificados, capazes de produzir vacinas. Como por exemplo: bananas, batatas ou tomates que, ao serem consumidos, vão transmitir ao organismo as inoculações necessárias.
As vantagens são enormes dado que: as plantas poderiam crescer no local
onde fossem necessárias, sem muitos custos. Os problemas logísticos, econômicos
e políticos, conjuntamente relacionados à distribuição normal de vacinas,
também seriam minimizados. E, ainda, estas vacinas não requereriam seringas
que, além de serem caras e causarem medo, podem ser contaminadas.
Por que a erradicação por vacinação é mais provável no caso de uma doença viral do que bacteriana?
ResponderEliminarExcelente questionamento. A verdade é que é mais fácil se obter uma vacina mais eficaz contra vírus do que contra bactérias. Pelo simples fato de que, quando se utiliza virus vivo atenuado, esse permanece para sempre no corpo da pessoa, embora não provoque nenhum sintoma. Isso faz com que a quantidade de anticorpos nunca cheguem a zero. Um grande mito sobre a memória imunológica é que ela dura para a vida toda. Ela dura por muito tempo, mas se não for estimulada, acaba desaparecendo com o passar dos anos. Em vacinas que utilizam virus vivo, o virus permanecerá para sempre no corpo da pessoa, e essa será imunizada por toda a vida. Com essa imunidade, não haverá possibilidade dos virus patogênicos se instalarem e se disseminarem, culminando assim com a erradicação, como foi o caso da varíola, como foi o caso da poliomielite no Brasil, como está sendo o caso do sarampo... já as bactérias, não são parasitas intracelulares obrigatórios, tendo uma sobrevida maior fora do organismo. Além do que, a maioria das vacinas contra bactérias utilizam o patógeno morto, ou inativado, ou apenas o toxoide. Isso irá gerar memória imunológica, porem, com o passar dos anos, essa desaparecerá caso não seja estimulada. Outra característica que explica isso, é o fato de que ao nos recuperarmos de uma doença bacteriana, eliminamos completamente a bactéria, o que não acontece por exemplo, no caso da catapora, em que sempre teremos alguns, ainda que muito poucos virus circulantes, em quantidades tão baixas que não manifestamos sintomas e sequer somos trasmissores, mas em uma quantidade que ainda assim, estimulará o sistema imunológico por toda a vida. Espero ter tirado sua dúvida
ResponderEliminarótimo texto.
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